sábado, 17 de junho de 2017

QUERO DIZER



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QUERO DIZER 

Quero contar um segredo, 
destes que a gente não conta para ninguém 
e fica curtindo a vitória sozinho... 
Quero lhe entregar um longo e delicioso beijo, 
destes que a gente fica imaginando, 
vez ou outra, no escuro, pouco antes de dormir. 
Quero lhe dizer novo poema, 
destes em que as metáforas 
são mais que verdades 
e fazem mais que um convite irrecusável . 
Quero que saibas, somente 
que ainda ando pensando em você... 

Quero lhe pedir desculpas 
por ainda lhe gastar o tempo com palavras tão minhas. 
Quero lhe dizer das erratas do cotidiano, 
das mutações dos sorrisos, 
das verdades dos poemas contemporâneos... 
Quero lhe dizer segredos. 
Quero lhe pedir sem medo da negativa. 
Agora, me cabe somente a porção dos refugiados. 
Dos que renegam ou são vistos calados.; 
Dos que percebem e mostram olhares encantados. 
Agora me cabe somente a porção da despedida, 
Que retém um pedido, o teu silêncio oportuno, 
Um dia ensolarado, uma hora qualquer, um anjo descontraído, 
Um beijo estalado... 
Um momento simples. 
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Quero lhe pedir o que tiver, não o que vier. 
Quero poder lhe dar um sorriso doce na hora de uma despedida, 
Destas da vida. 
Quero lhe dizer adeus 
Mesmo sem querer dizer 
Que foi por mais um dia pensando em você... 
Tanto que me fez lembrar que tenho que esquecer. 


Anita Coutinho.

Despedida


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DESPEDIDA 

Estou indo embora 
Da tua hora de partida 
Sou cínica e geada 
Chego sem beijo de despedida 
E tão ousada na postura 
Incrédula, meio esquecida; 

É sua hora de partida... 

Vim te dizer adeus 
E cheguei atrasada 
Pouco aflita, meio consumida 
Calada, sem graça 
Assustada 
Pela tua falta de poema 
Teu silêncio desmedido 
Tua ânsia desdenhosa 
Nem amigo nem querido 
Me faz pouco falsa e ainda charmosa. 
Inquebrável jarro medieval 
Peça usada, 
Trincada e valiosa. 

Cheguei ainda 
Para a despedida 
Desfaço minha melhor intenção 
De destruir vazios 
Consumir olhares 
Descer em qualquer estação 
Por nada, 
Apenas para ver e querer... 
Por querer ver 
Tua fuga, hexagonal , despedida... partida 
Em partes, sem pedaços 
Sem os fragmentos de meu sim 
Sumindo, sem deixar um verso para mim 

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Cheguei atrasada 
Para a tua partida 
Toda quebrada e partida 
Cheguei inteira 
Pra te ver colar teus cacos 
Da felicidade trincada 
Pelos versos que te rimei 


Cheguei somente 
Em contida despedida 
Inteira, reticente 
Para te dar a certeza 
Que serei em todas as suas estações, 
Daqui para leste e para frente 
Somente, 
Ausente. 



Anita de Souza Coutinho 
Rio de Janeiro, 07 de Abril de 2000. Sexta feira. 

Esquece!


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ESQUECE! 


Esquece! 
Por aqui nada me aquece 
Gritei alto 
Alcancei os tímpanos de Deus 
Em prece 
Para diminuir a distância 
Entre nós 
Que só engrandece 
Muda, emudece 
Disse: Louca, 
Desce do palco, DESCE! 

Desci. 
Sem platéia 
Boa vontade nos olhos 
Cílios de quermesse 
Loba sem alcatéia 
Sozinha 
Abelha- rainha 
Em coma, azedando, 
Sem colmeia. 

Esquece, vai. 
Vaia, uiva assim mesmo 
Que aqui tudo estremece 
Você não desce 
Nem pousa 
Nem asa 
Nem sopra 
Na minha pressa. 

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Esquece! 
Minha promessa 
Minha tese muda 
Que fico tímida 
E cínica 
Quase surda 
Por não ser pétala 
Agulha-aguda 
Acreditada, 
Carta branca, absurda. 


Esquece, vai... 
Meu número de telefone 
Me signo, meu beijo 
Meu nome... 
E envelope-se selado 
Ao endereço já decorado 
Anda, desce! 
Desce pelo correio, 
Já destinado 
Direto, certo, logo 
Bem aqui a baixo 
Para o meu colo, 
Minha saudade, meu lado. 

Todo o resto, 
ESQUECE!!!

Anita Coutinho

Envelope



ENVELOPE

Ainda sem sono 
alma voa 
pensamento em pedaços 
falta tempo para risos 
faltam verdades. 



Carta sem selo 
unha quebrada 
gata sem brio 
porta trancada. 


A poesia ficou falando sozinha 
Não teve coragem de ser enviada. 



(Anita Coutinho)

Ruas


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RUAS 

Tenho me surpreendido 
andando pelas ruas de minha calorenta cidade 
como se fosse outra cidade. 
Ruas não como as já andadas 
Ruas de outro bairro, 
cidades trocadas 
idéias velhas 
novamente interpretadas; 

Ando pelas calçadas 
Como se não pisasse em nada 
Como se fosse a calçada 
da tua casa, 
da outra cidade; 

Ando como quem perde tempo 
ou esmeraldas 
Gastando meu veneno 
Pêssegos sem calda 
Pelas ruas da cidade 
como se fosse outra 
Pelas calçadas 
como se fossem outras 
no teu bairro 
teu caminho 
calçada da tua casa. 

Transfiro os mapas 
Erro de rua 
Transpiro 
Paira inspiração 
pura 
só, entre aspas, 
brota do chão 
que não é chão 
é rua de vento 
É uma vontade-brisa 

É outra cidade 
outro bairro 
outro desejo 
outro momento 
outra parada 
outra estação 
Longe, muito longe 
minha cidade, minha rua 
meu CEP e minha asa 
podada 
Tudo longe, 
Muito longe 
Longe da tua casa. 

(Anita Coutinho)

Beijo na Testa

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Olhos tristes de bulldog 
A viagem desmarcada 
Cabeça pedindo afago 
Beijo na testa 
De olhos fechados 
Sem coragem para lidar com palavras. 

Organizo mentalmente os planos para o ano todo. 

Tento buscar ânimo nos sinônimos. 

Poetas não tem sindicato secreto 
nem eu tenho pseudônimo. 

O compromisso de hoje foi desmarcado 
Passei por você direto 
Nem olhei para trás... 

Pisei em falso mais uma vez 
e arrumei uma ferida triste 
que não cicatrizou mais. 

(Anita Coutinho)

Dor de Cabeça





DOR DE CABEÇA

Cabeça dói,
Doril rima com Brasil e palavrão 

Tenho bom senso... 
Sei sorrir 
olhando no olho do inimigo 
durante um aperto de mão. 

Quem não tem pedras 
no caminho 
que atire seu primeiro pecado. 
Rima pobre Faz parte da passeata: 
Versos curtos 
Passos largos da espera 
E os gritos da platéia... 
Não se iluda, é inveja
E receitas de Medéia. 

A cabeça dói, 
E não há nada que eu possa fazer 
A não ser fingir que não é 
Tudo o que não tem que ser. 

Percebi que tenho medo do escuro 
O escuro das azeitonas 
Do mate gelado, 
Do beco deserto 
Do moleque assustado 
Do beijo roubado 
Do blackout e do elevador travado. 

Quando eu crescer 
Vou aprender a receita 
Para fazer cabeça parar de doer

(Anita Coutinho)