quarta-feira, 1 de junho de 2022

Não se meta!

 Não se meta!


Sem planejamento

        nenhuma anotação.


Sem cabimento

        nenhuma decisão.


Planando no vento

        até que venha o não.


É seu momento

        não abra mão.


Tanto conselho 

           bonito

Tanta palavra         

        bem dita

    que não ajuda

nem a quem acredita.



Vozes dizendo as regras

        fazendo as rezas

pregando as peças...


Quanto conselho que não presta.

    De nada ajuda,

        não interessa.


Que história é essa? 




(Anita Coutinho)


Sortuda

Sortuda


Ela dá sorte

de não ver meus atrasos

e todas as vezes que me calo.


Será que sabe

o quanto me atrapalho? 


Ela não me conhece

preciso me apresentar



Ela tem que ver

o quanto valho


Que não me perco,

que uso atalhos


Que não me aproximo

porque me espalho


Que quebro fácil

no primeiro estalo.





Será que ela entende do que falo?




(Anita Coutinho)



Acorda, querida!

 Acorda, querida!



Ela agora acha

que não fica mais escondida

vai ser notada, 

vai ser escolhida.


Por onde ela andou

esse tempo todo

para pensar assim

toda perdida? 


Ela acha que aparecer 

de repente

vai fazer ser querida, 

vai ser diferente.


O que aconteceu 

com seu senso,

seu Norte,

sua medida? 



Que trabalho retórico

despertar essa iludida

para ela pisar de volta

na vida.



Acorda, querida!


(Anita Coutinho)

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Fingida

 Faz tudo por fazer

        age bonito

por educação

finge mal

dá para perceber

que você só quer agradar

         e se perde

erra tudo o que é para errar

porque não consegue.


Quer acertar,

mas quebra a graça.

Atravessa 

    a conversa.

Corta o clima.

Passa por cima

        e estraga a rima.


Que coisa, menina!



Qual graça de ser fingida?

Me ensina?

Será que você é mais livre assim 

e isso seria o melhor para mim? 


Não sei como você não cala.

Como consegue se esfriar 

sem parar

deixar passar? 

Isso não é para mim.

Como pode ser feliz assim?


Essa sua cena

acaba contigo.

Está ficando deserta aos poucos

inquieta e tensa

É uma pena.


Fingida! 

Não merecia nem esse poema.


Anita Coutinho

sábado, 2 de abril de 2022

Mentira


Fiz uma carta para você

        Lírios do campo

Tão engenhosa quanto você

        Azeviche

Estrelas nas palmas das mãos

        Aperto

Escrever a lápis e não selar

        Extravio.




Fiz uma carta para você


        Mentira

Disse uma mentira para você

        Venha

Escrevi besteiras com a letra do seu segundo nome

        Brincadeira

Ganhei uma fantasia

        Ilusão

                                                    Pausa para um abraço

                                                                Cansaço.




Fiz uma carta para você

        Desvio

Agora, faz meia hora que te chamo

        Hipérbole

Você repete o meu nome

        Mantra

Passos do lado de dentro

        Ruínas.



Fiz uma carta para você

        Atalho

Fingir combina contigo

        Arlequim

Soprei sobre seus olhos fechados

        Cílios

Certeza de querer ser maiúsculo

        Singular

Mentira é você

                                                                Personagem.



Fiz uma carta para você

        Dúvida

Contei um segredo para disfarçar

        Desculpe-me

Separei as sílabas para você entender

        Entrelinha

Ontem e hoje não se alinham 

        Amora

Silêncio, escrevi para você.

        Rosas.



Fiz uma carta para você

Deslize

Ocupei um quarto e meio

Recipiente

Desviei olhar

Susto

A letra "S" botei pra secar

Rascunho.




Fiz uma carta para você

        Escuro

Esqueci a porta entreaberta

        Cadeado

Hoje te puxei pelos cabelos

        Senha

Amanhã não te telefono mais

        Mentira.



Anita de S. Coutinho

quarta-feira, 30 de março de 2022

Estranha


Por que você é tão estranha?


Não mexa aí!


Você vai até onde é 

longe demais

e se alonga na vida

dos outros

como aquele vendaval

que levanta folhas

e lugares

para olhar

tudo o que pode

aprender com você

ensinar para você,

mas não pergunta se pode,

nem se tem que saber.


Por que você é assim

grudada no seu pior,

pautada no seu melhor

tão desequilibrada

e perdida

ao seu redor? 


Você confunde e assusta.

Traz uma ave no braço

Faz escudo com flor.

Parece que nem sente mais dor.


Você não escuta!

Não me espera chegar,

desfruta

o gosto da vida,

a hora de deixar esquecida

qualquer regra

do que é pra parar

e some fluída.


Não me espere!

Você voa mais leve 

sem eu te olhar. 


Vai e segue

sua falta de Norte.

É seu jeito 

de se curar. 


Você é estranha

e está certa

ainda deixou para mim a porta aberta

(que eu não tenho coragem de passar).



Anita Couinho

segunda-feira, 28 de março de 2022

Lá vai você

 Lá vai você

       Tá certo 

que agora você acredita em mim

   e diz que aposta

    até dinheiro,

     que iria até o fim.


       Quanto você tem aí? 

O que você tem pra mim? 


Não quero valores,

            quero tudo!

               Até os temores

                    os segredos 

                    e alguns sabores. 



Eu custo caro.

Não é fácil bancar meus horrores.


Eu custo leve.

Sou fácil de amores.


Eu peso curto.

Não me venha com pudores.




Acredita em mim agora

que não passou nem meia hora 

que nem leu até o final 

e já perguntou a hora 

de ir embora? 


           Tá certo!

Lá vai você com sua história...





(Anita Coutinho)