Ela veio tão leve
como quem sorri de tarde
trouxe a pressa das palavras
a faísca no olhar
uma doçura ácida
difícil de explicar
queria me contar
que me ouviu
seguiu o que eu disse
e onde foi parar.
Nada lhe tirava o ar.
Seguiu meus erros
e meus começos
entendeu melhor do que eu
sobre a hora de chegar.
Achou aqueles medos
que não se atualizaram mais
segredos
que nem se usam mais
enredos
do que não interessa mais.
Ela veio me contar que viu
sua liberdade
cara a cara
quando me ouviu explicar:
Moça a vida é mansa
pise de leve
não deve assustar.
Moça cuidado,
a vida é breve
tem que alcançar.
Essa moça nem sabe
mas hoje foi ela
que veio me ensinar
me acordar
me alertar
me ajudar a não parar
porque a gente se acostuma
a ficar onde está.
A moça
me chama com a doçura
que sabe usar
me pega pela mão
debocha
me cobra: qual será a cor do seu olhar?
Ela não espera muito de mim
só me apressa
não quer me ver parar.
Ela não é de esperar.
Anita Coutinho